Edifício da Sra. Bertha
Endereço: Rua Júlio de Castilhos
Ano de Construção: 1930
Edifício em estilo Art Decó, inacabado, hoje em deplorável estado de conservação, na Rua Júlio de Castilhos próximo à antiga Prefeitura Municipal.
Após anos de abandono o edifício, os atuais proprietários informaram que hoje tem garantida pelo menos as condições de segurança no local, tendo vedado o ingresso a pessoas estranhas e tendo a presença permanente de um morador/zelador, embora o edifício continue à espera de uma intervenção mais abrangente que possa resgatar os traços arquitetônicos originários e toda a sua imponência urbana.
O PRÉDIO MAL-ASSOMBRADO DA VÉIA BERTHA – por Marcos Dal Bó
“Depois de 25 anos longe de Torres, uma das primeiras coisas que notei foi que “ele” continuava lá. Imponente, decadente, sinistro, parecido com um esqueleto abandonado no meio da cidade. Um edifício misterioso que na infância me chamava atenção pela “casinha” de vidro que ficava no terraço. Que vontade de ver o que existia lá! Mas a fama de mal-assombrado (a garotada apelidava ele de “Sete Caveiras”) mantinha a gente longe!
Esta fama de amaldiçoado é justa. Em seu quase um século de existência, nunca conseguiram terminar a construção, e nunca conseguiram derrubá-lo.
O “prédio da Véia Bertha”, como é conhecido, começou a ser construído provavelmente nos anos 30. Ninguém sabe o que iria ser, se um hotel, uma pensão ou um edifício residencial do casal que o construiu. A memória popular recorda da D. Bertha como uma mulher muito rica, dona de vários terrenos em Torres, que comandava pessoalmente a obra. Dava ordens para os pedreiros e indicava como queria a construção, sempre bem arrumada, com lenço vermelho na cabeça e batom chamativo. Mas houve uma briga feia entre o esposo da D. Bertha e o prefeito. Logo depois, em 1940, o marido faleceu. E a obra nunca mais foi pra frente. Jamais foi concluída.
A “Véia” Bertha nunca contou pra ninguém do porquê da obra ter ficado abandonada. Ela faleceu sozinha décadas depois. Segundo dizem, não tinha filhos ou parentes.
O terreno do prédio era enorme, ia até a beira da lagoa. Com o abandono, as pessoas foram ocupando em volta. O edifício aos poucos foi sendo depredado. Levaram todas as portas e janelas. Vinha gente de carroça e carro carregar o material que tinha dentro. Azulejos, telhas de vidro, porcelanato dos banheiros… Passavam dias martelando as paredes para retirar chumbo.
Acabou embargado pela prefeitura, pois o prédio parecia condenado. Mas nunca conseguiram demolir. Dizem que quando a prefeitura ia botar a baixo, surgiu uma Fundação Bertha, reclamando pelo prédio e impedindo a demolição.
Outro capítulo da história foi a compra do prédio por um empresário, que começou a reformar – mas novamente as obras pararam.
É difícil imaginar como uma relíquia tão bonita, o maior exemplar de arquitetura art decó da cidade, e tão bem construído – dizem que nem rachaduras tem – nunca foi aproveitado pela prefeitura. Coisas que só maldições explicam…”